29 oct 2008

Da visão do futuro

Se me fosse concedida a escolha um dom eu não saberia dizer de cara o que escolheria, mas posso afirmar que não seria saber o futuro. Acredito que existam pessoas que tenham o dom de vislumbrar o que está por vir ,mas também acredito que saber nitidamente tudo o que vai acontecer é uma maldição. Se você soubesse que bateria com o joelho em uma cadeira, com certeza evitaria a batida e poupar-se da dor, como teria cuidado com uma faca se soubesse que cortaria um dedo ou não sairia de casa sem um guarda-chuva se soubesse que ia chover. Mas essas são apenas as pequenas coisas, o começo da bola de neve. Com o tempo você ficaria tentado a mudar de lugar coisas maiores, como não fazer uma viagem por saber que ia chover o fim de semana todo ou não entraria naquele consórcio do carro zero por saber que nunca ia ser contemplado. E ainda maiores: exigiria que sua mãe se mudesse para sua casa para que ela não quebresse a perna escorregando no banho e demitiria a empregada antes que ela começasse a beber escondido em serviço. Então, um dia, você nem olharia para aquela menina de rabo de cavalo na rua, pois já sabia que com 10 anos de casados ela faleceria e você não faria amizade com aquele cara legal da mesa de bar porque ele abusaria da sua irmã 6 meses à frente. Por fim, você passaria a vida trancado em seu apartamento por saber demais, por saber até o dia e a hora da sua morte e o que todos iam dizer e pensar. Apenas esperaria o momento chegar, imóvel, evitando tudo que pudesse dar errado até a hora de fechar, de vez, os olhos. Talvez, se pudesse, evitaria seu próprio nascimento, para evitar a própria morte.
Acho que eu escolheria o dom de voar e passaria o dia inteiro entre as nuvens. Dizem que quem tem a cabeça nas nuvens não pensa no futuro. Parece sábio.

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